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Como Paola Carosella deixou para trás dívida milionária e vida infeliz

por | jun 7, 2017 | Áreas, Empreendedorismo, Entrevistas, Notícias

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A Argentina Paola Carosella é um dos nomes mais conhecidos da culinária no Brasil. Aos 44 anos, é dona de dois restaurantes (Arturito e La Guapa) e jurada do programa MasterChef. Mas até poucos anos, a história era bem diferente: vida infeliz, dívida milionária, cheque especial estourado e sócios terríveis. No dia 5 de junho, a cozinheira – como ela se define – revelou como deu a volta por cima e sua franqueza emocionou os empreendedores que assistiam ao Day 1, realizado pela Endeavor e pelo Sebrae, em São Paulo.

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Dia marcante

“Tive muitos ‘Days 1’ na vida. Mas vou falar sobre um dia em que morri de medo, entrei em pânico na hora de tomar uma decisão. Eu tinha 40 anos. Estava no Brasil há 12 anos, tinha uma filha de dois, um restaurante quase falido, um relacionamento definitivamente falido e estava no cheque especial. Eu cheguei à noite na minha casa, voltando do restaurante, subi até o quarto da minha filha, que estava no berço, e olhei para ela. Desci para o escritório. Era meia-noite. Eu comecei a chacoalhar a cabeça entre as mãos. Estava cansada. Chorei. Peguei duas folhas de papel e escrevi: ‘hoje’ e ‘daqui dois anos’. Resolvi analisar como eu queria que minha vida mudasse, olhando para aqueles pedaços de papel. Nunca tive que pensar muito antes de tomar uma decisão. Sou cozinheira, não penso – sou intuitiva. Fiquei um tempão no chão. Quando levantei, estava com quatro certezas: vou morrer algum dia, não sou feliz na vida que eu tenho, preciso fazer alguma coisa para mudar (ninguém ia mudar para mim) e eu sou cozinheira.”


Paixão

“Eu me encantei com a cozinha quando ainda pequena. Adorava a forma como minha avó colocava a comida na mesa, era um ato muito poderoso. Eu me apaixonei por essa coisa meio erótica da cozinha – a fartura. Esses eram os fins de semana. Mas a semana era diferente. Sou filha de pais separados e morava com a minha mãe em um apartamento, onde sentia muita solidão. O que me resgatava da solidão era cozinhar. Os ingredientes que eu tinha eram limitados, não tinha a fartura da casa da minha vó. E assim, eu comecei a preparar o jantar, esperando minha mãe chegar do trabalho. Quando terminei a escola aos 18 anos, escolhi ser cozinheira. Na adolescência, me sentia gorda, feia, não sabia me relacionar com as pessoas. A cozinha me acolheu.”


Um empreendimento

“Eu gostava de cozinha e me dei bem na cozinha. Eu era boa nisso. Depois de dez anos de trabalho, decidi que o que eu tinha de fazer era abrir um restaurante. Não fazia a mínima ideia do que era empreender, só queria abrir um restaurante. Eu tinha uma herança dos meus pais. Era 2001, eu estava no Brasil e decidi investir aqui: eu não falava português, não tinha documentos e não conhecia ninguém. E como empresária, fui uma excelente cozinheira. Meu restaurante era o Julia. Mas tive um sócio e aquilo não deu certo. Eu queria ir além. Então ele comprou minha parte no restaurante, coisa que nunca acontece.”


Um (novo) empreendimento

“Depois, abri o Arturito. Em vez de escolher um sócio errado, escolhi sete. Eram pessoas ótimas, mas com ideias diferentes das minhas. Eu queria um lugar branco, aberto, que pudesse se expandir. Mas acabei tendo uma boate cafona. Só que eu cozinho muito bem, então o restaurante deu certo. Mas eu não gostava do que estava fazendo, eu não acreditava na proposta. Eu queria a comida de uma forma mais democrática. Soltei todas as minhas unhas quando virei mãe e disse para os meus sócios que aquilo ali não estava dando certo. Precisávamos mudar aquele restaurante de alta gastronomia. A gente precisava de uma proposta mais amável. Eu não estava indo para lugar algum, eu não era feliz. Queria me espalhar por esse mundo de uma forma mais significativa. Então, sentada no chão olhando para aqueles dois papeis lá naquela noite, comecei a analisar as minhas opções.”


Reconhecendo o próprio valor

“Eu entendi que o mais valioso da empresa era eu mesma. Eu estava cozinhando e dando valor àquele espaço. Então, eu tinha que dar valor ao meu valor. Peguei um empréstimo de R$ 2 milhões no dia seguinte. Para quem não tem nada, isso era muito! E eu era minha única garantia. Eu era meu paraquedas, não tinha mais nada. Mas eu peguei o empréstimo mesmo assim. Quando terminei de comprar o restaurante dos meus sócios, me deparei com um restaurante que tinha muito menos clientes, com 40 funcionários olhando para mim e me perguntando o que eu ia fazer. E eu fiz acontecer. Eu fiz a única coisa que sabia fazer. Peguei a coisa do jeito que eu sei: com tudo. Eu virei um polvo dentro do restaurante. Comecei a fazer tudo que era necessário. Tive de pensar e cheguei a uma ideia quase brilhante. Um dia por semana eu iria cozinhar e, nos outros, iria tentar ser a dona do restaurante. Deixei as sextas-feiras para isso – faria o que eu quisesse na cozinha. Os executivos de sexta-feira começaram a florescer. E em uma das sextas-feiras, fiz empanadas salteñas, elas venderam muito bem. Comecei a fazer mais para ver se dava certo. Depois, descobri que aquilo era ‘teste de mercado’. Para mim, estava só fazendo empanadas.”


Recompensa

“Não sei se a vida recompensa aqueles que se arriscam. Não sei se isso é verdade, mas comigo foi assim. Eu encontrei o sócio perfeito. Tinha aprendido a fazer as perguntas certas, depois das minhas experiências. Afinal, as únicas certezas na vida se aprendem no inferno, não no paraíso. E eu escolhi bem e tive a sorte de ser escolhida por ele [Benny Goldemberg]. Nós tiramos do papel o ‘projeto empanadas’. Hoje, eu sou muito mais feliz do que antes. Tenho um sócio integro, honesto, inteligente e com uma nobreza daquelas difíceis de achar. Com ele, eu tenho um contrato de vida. Aprendi que sem arte e sem romance não existe negócio. Uma empresa pode ser um grupo de pessoas que querem fazer negócios. Ou um grupo de pessoas cientes de que também são parte de algo maior.”


Mudando a sociedade

“Em um momento em que ‘empresário’ parece uma má palavra, eu tenho muito orgulho de ser empresária. Eu tenho muito orgulho da forma como fazemos negócios. Crescemos de forma lenta e sólida, somos cientes do espaço que ocupamos. Cada um de nós em tudo que faz, seja empreender ou seja dar um passo para frente de forma individual, tem que ser absolutamente responsável pelo que faz. Sabendo que há um impacto nas pessoas que temos por perto na nossa sociedade, na nossa comunidade, no nosso coletivo. Esse é o único jeito que acho que vamos mudar a sociedade um pouco. Temos que ser conscientes de tudo que a gente faz, o tempo todo — desde o ‘bom dia’ que damos. Isso não estava no roteiro, não me matem. Mas temos no Arturito e no La Guapa muitos colaboradores negros. Vocês acreditam que muitos clientes não olham para eles e pedem para serem atendidos por brancos? Isso tem que mudar.”

 

Por: Edson Caldas
Foto: Revista Trip
Fonte: Época Negócios

1 Comentário

  1. Chefe Paola Carosella. Parabéns. Foi ao fundo do poço. Submergiu e hj é uma líder gastronomica internacionalmente reconhecida.
    Valeu cair no poço. Vc é um balde. Sem arriscar não há sabor. ❤️

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