Churrasco de melancia? Maionese de castanha de caju? Moqueca de jaca verde? Muitos podem até torcer o nariz para as receitas pouco tradicionais de Bela Gil, 29 anos, mas a chef baiana manda seu recado: “Não me importo com as críticas. Tem coisas tão infantis que entram por um ouvido e saem pelo outro”.
Em uma cozinha itinerante, montada em cima de um caminhão, a chef passeou pela Bahia e pelo Rio de Janeiro em busca de produtores orgânicos, urbanos e rurais. A ideia era mergulhar nos ingredientes tradicionais da cozinha brasileira. Além disso, Bela preparou quitutes para personalidades como Luiz Caldas, Paloma Amado, Daniela Mercury, Marcio Victor, Érico Brás, Cumpadre Washington, Beto Jamaica e Gil, seu pai.
“Sempre quis compartilhar isso com as pessoas. Não sou de ficar apontando o dedo para ninguém, dizendo ‘está comendo isso errado’. Gosto de compartilhar as coisas que deram certo comigo”, explica Bela, sobre as receitas testadas durante seu programa e que também podem ser encontradas em seu terceiro livro.
Sem se importar em ser julgada por escolher uma vida livre de transgênicos e industrializados, Bela lançou seu terceiro livro dedicado aos produtos orgânicos, com receitas veganas e sem glúten: Bela Cozinha – Ingredientes do Brasil. A obra apresenta as receitas que marcaram duas temporadas recentes do programa Bela Cozinha, exibido no GNT.
A novidade em relação aos volumes anteriores, que juntos venderam cerca de 300 mil exemplares, é o conceito vegano e sem glúten. Os capítulos são divididos por ingrediente: melancia, abacaxi, aipim, castanha de caju, cacau, cogumelos, dendê, feijão etc. Além das receitas que envolvem cada um deles, o livro traz informações sobre o cultivo e o ingrediente.
O dendê, por exemplo, ganha atenção especial em um texto que exalta suas propriedades e seu valor nutritivo. “A cor do dendê deixa qualquer prato bonito, ele é bem vermelhinho porque tem alto teor em betacaroteno, além de ser muito nutritivo, rico em vitamina E e A. É uma gordura saturada excelente para fritura, porque aguenta altas temperaturas sem se tornar tóxico e inflamatório”, explica Bela. “Gosto de desmistificar essa ideia de que o azeite de dendê não é saudável”, completa.
Tabu
A temporada atual do Bela Cozinha sai um pouco das receitas para abordar um estilo de vida. Exercícios físicos e alimentação cotidiana fazem parte do programa que acompanha o dia a dia de Bela em casa, para “ver o que faço, o que tem na geladeira, na lancheira da Flor…”, conta, citando sua filha de 8 anos.
Bela, inclusive, foi alvo de críticas quando postou em suas redes sociais o lanche que a filha levou para a escola: batata-doce, mix de castanhas e banana- da-terra. “As pessoas não estão preparadas, mudar hábitos alimentares é complicado, é muito difícil sair da zona de conforto. A crítica é uma forma das pessoas se defenderem, me atacam para justificar seus atos, o que elas próprias fazem”, alfineta.
Defensora dos orgânicos, Bela destaca que não são eles que são caros, mas os industrializados é que são baratos demais.
“O valor real não inclui o preço oculto: quantidade de água, poluição provocada, desmatamento… É um valor astronômico que a gente não pensa. Os governantes precisam valorizar o pequeno produtor, a produção livre de transgênicos, venenos, corantes e sabores artificiais. É desleal”.
Seu posicionamento sobre esses e outros temas não estão apenas no livro e no programa Bela Cozinha, mas também em seu canal do YouTube, o Canal da Bela. Recentemente, a chef iniciou uma temporada onde fala sobre alimentação saudável, parto humanizado, absorvente ecológico e outros temas que ainda são encarados como tabu. “Não acho que todos estão preparados, mas é um debate necessário. Preparados ou não, a mudança tem que acontecer. Estou aqui para mostrar esse outro lado, que acho importante para uma sociedade sustentável e harmônica com a natureza”.
Por: Laura Fernandes
Fonte: Correio
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