- Episódio 1: A chegada e suas primeiras impressões e sabores
- Episódio 2: As ruínas e as delícias de Baalbek
- Episódio 4: O vale sagrado e o delicioso suco de romã
Na postagem anterior relatei sobre as delícias de Baalbek no Vale do Beca e não foram só as esfihas e os pães que encontrei por lá, mas também os vinhos.
Com terras abundantes para a agricultura, as videiras permeiam entre a paisagem dos caminhos percorridos. A produção de vinhos é uma das mais antigas da história da humanidade e graças aos fenícios e suas trocas com outros povos mediterrâneos, hoje o Líbano fabrica um dos melhores vinhos do mundo.
Acredita-se que quando Jesus Cristo fez seu primeiro milagre, transformando água em vinho nas Bodas de Canaã, tenha ocorrido na Antiga Cananéia, ao sul do país.
Existem outras vinícolas menores, mas as mais conhecidas são as da região do Vale do Beca e tem um terroir muito especifico que imprime nos vinhos uma elegância e caráter ímpares, complexidade, equilíbrio, acidez, tanicidade e alta mineralidade.
As montanhas protegem contra as chuvas e os ventos quentes os parreirais e chegam atingir em torno de 1000 metros de altitude. De um lado a cordilheira Antilíbano a leste e do outro a cordilheira Montanhas do Líbano a oeste. Seu solo tem formação calcária, argilosa e sempre pedregoso. O clima também é um dos maiores responsáveis pela qualidade dos vinhos, com verões quentes e secos, e invernos com chuvas moderadas.
O país tem entorno de 60% de muçulmanos que por questões religiosas não consomem álcool. Por esta razão, o Líbano é um dos países que menos consomem vinhos no mundo. Todavia, seus vinhos são exportados para a França, Estados Unidos, Inglaterra e outros tantos países.
Nossa parada foi o Château Ksara que faz parte da história do país.
Tudo começou com monges jesuítas em 1857 para a produção de vinhos para os ritos religiosos e em 1973 a propriedade foi vendida para empresários libaneses que procuram manter a tradição da empresa e exportam seus vinhos para cerca de 30 países (inclusive para o Brasil). É a vinícola mais antiga do país e a primeira a produzir vinhos secos.
A adega é repleta de história e possui uma cava subterrânea de 2 km que remonta o tempo do Império Romano, segundo a guia ela foi encontrada por acaso. Um animal caiu acidentalmente em um buraco e a partir daí descobriram a imensa cave, onde até hoje armazenam suas garrafas, e nos tempos de guerra ela foi utilizada como abrigo.
Além do vinho, outra bebida produzida com uvas no país é o Arak. Um delicioso destilado de uvas e aromatizado com anis produzidos com as uvas autóctones (próprias do país) Merweh e Obaideh.
O arak é a bebida do dia a dia do libanês. Com 53% de teor alcoólico, muito aromática e elegante. Não é consumida pura e quando adicionada água ou gelo se torna leitosa, sendo assim também chamada de leite dos leões ou leite de camelo.
Essa mudança ocorre, graças ao óleo da semente de anis, que é utilizado para fornecer o sabor característico da bebida. Quando adicionado a água a bebida forma gotículas que dão origem à cor branca, já que ele só se dilui em álcool.
A partir dela surgiu um termo muito conhecido no Brasil, o “de araque” ligado aos mentirosos.
Segundo informações do site Brasil Escola a bebida foi trazida ao Brasil pelos imigrantes árabes de origem não muçulmana, essa bebida logo foi conhecida pelo seu potencial em causar uma grande sensação de embriaguez. Como todos sabem, o bebum, além de deixar escapar muitas verdades, também confessa o seu estado tétrico quando começa a falar uma série de histórias “de araque”. E foi dessa forma que, a partir do aportuguesamento do termo “arak”, que a expressão aqui explicada, saiu dos copos para incorporar-se à linguagem usual.
Ao verificar a inesperada origem árabe do termo “de araque”, comprovamos a existência do grande mosaico que figura a cultura brasileira. Além de negros, índios e brancos, temos uma outra leva de civilizações que trouxeram consigo hábitos que determinam a construção dos nossos costumes.
Mas voltando ao Líbano e ao Château Ksara, seus vinhos são premiados no mundo todo e a adega recebe mais de 70 mil turistas por ano. Outras variedades de uvas que utilizam nas produções dos vinhos são: Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Mourvèdre, Caladoc, Marselan, Sémillon, Chardonnay e Clairette and Sauvignon.
Confesso que conheço muitas vinícolas no Brasil e no mundo, mas foi surpreendente cada momento desta visita.
E assim continuamos nossos dias pelo Líbano, já com o coração repleto de saudades e vontade de retornar em breve.
Um brinde ao povo libanês, a história do Líbano e a você leitor!!!
Conheça mais sobre a vinícola, acessando: www.chateauksara.com.
Fonte: Brasil Escola
MARIANA DE CASTRO PAREJA GALVES
Formada em gastronomia e especialista na área. Atua como escritora, palestrante, pesquisadora e docente em cursos técnicos, livres, graduação e pós na área de A&B.
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