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Pinhão

por | set 10, 2018 | Brasileira, Colunistas, Cozinhas, Internacional

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Este artigo tem um misto de memória e descobertas. Memórias, pois sempre me recordo de minha mãe preparando em casa no período de frio e descobertas, pois pela primeira vez tenho uma araucária em meu terreno, produzindo muuuuuiiiito pinhão.

O pinhão é uma semente comestível de pinheiros, encontrado no gênero Pinus, sendo utilizada nas cozinhas da Europa, América do Norte e Ásia há milhares de anos, uma vez que ela é rica em proteínas, fibras alimentares e sabor (OPAS, 2018), sendo colhida entre abril a julho. Para Santos et.al (2002) a Araucária (Araucaria angustifólia) também conhecida como Pinheiro do Paraná é uma espécie geralmente encontrada em agrupamentos densos, principalmente na parte leste e central do planalto meridional do Brasil, abrangendo os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ocorrendo ainda, como manchas esparsas no sul do Estado de São Paulo e na Serra da Mantiqueira, estendendo-se até o Sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Entre as latitudes 25º30′ e 27º sul, a araucária ocorre também na Província Argentina de Misiones. Existem também remanescentes no Paraguai na Bacia do Rio Paraná (SANTOS et.al. 2001).

Ele é um produto de qualidades nutritivas e organolépticas excepcionais e tem seu uso comprovado na cultura alimentar e na alimentação cotidiana dos diversos povos que habitam o planalto serrano, desde antes da colonização européia na região, com os índios Xokleng. Esse alimento é comido por pássaros e roedores que espalham as sementes no chão. Também é usado em muitos pratos típicos regionais, inclusive a sapecada, que também contém as folhas secas do pinheiro brasileiro (SLOW FOOD BRASIL, 2018).

Do ponto de vista nutricional, o pinhão é um alimento rico em calorias. Assim, ele pode ser usado para ajudar no aporte calórico de trabalhadores braçais, atletas, crianças e adolescentes em fase de crescimento. Por também ser rico em fibras, o consumo pode trazer diversos benefícios, como prevenir doenças intestinais. Destaca-se ainda sua composição de minerais como cobre, zinco, manganês, ferro, magnésio, cálcio, fósforo, enxofre e sódio. Porém, merece destaque no fornecimento de potássio, mineral que ajuda a controlar a pressão arterial. Ainda nele, são encontrados os ácidos graxos linoleico (ômega 6) e oleico (ômega 9). Estes contribuem para a redução do colesterol no sangue. Por isso, podem ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares (EMBRAPA, 2018).

Algumas receitas tradicionais fazem uso de pinhões, muitas vezes torrados, para adicionar um sabor especial, algo entre noz e amanteigado, portanto, ele é adicionado a algumas saladas e também é usado no famoso molho pesto italiano. Os bolinhos italianos de pinhão também utilizam a semente como ingrediente principal. O óleo de pinhão, por sua vez, tem um sabor muito forte, portanto, é usado em muitos legumes e saladas. A maioria dos mercados vende pinhões, que podem ser um item caro de especialidade, por isso vale a pena comparar antes de comprar pinhões (OPAS, 2018).

Em uma viagem para a região de Urubici (SC) em 2016, me deparei com muitas receitas que não conhecia, sendo o pinhão o astro principal. Não sabia que lá existia uma Cooperativa (produtores de pinhão do planalto serrano), que compreende 573 famílias de agricultores que possuem pequenas glebas e que vendem seus produtos através de cooperativas locais, a granel ou processados. Eles se organizam na forma da Cooperativa Ecoserra e as atividades em torno do pinhão compreendem desde o extrativismo sustentável das pinhas da araucária, beneficiamento das sementes (cozimento, descasca e/ou trituração), elaboração de subprodutos (pesto de pinhão, pinhão em conserva, paçoca de pinhão) e turismo de base comunitária ligado à cadeia produtiva do pinhão (SLOW FOOD BRASIL, 2018).

Ainda de acordo com a mesma fonte, a Cooperativa teve papel fundamental na valorização e defesa deste produto nativo tão ameaçado pela derrubada das araucárias, e ajudou para que seu preço se tornasse mais justo tendo em vista a complexidade da atividade extrativista e de processamento. O extrativismo sustentável visa não só aumentar a produtividade, como também preservar a espécie e as espécies vegetais e animais que dependem da araucária para se alimentar e sobreviver.

De todas as receitas que pude provar de pinhão, destaco o estrogonofe de pinhão (se você leu o artigo sobre a miscigenação na alimentação, este é um grande exemplo de troca cultural), o bolo de pinhão, a paçoca, cerveja, arroz com pinhão, entre outros. O que mais costumo produzir em casa é o bolo, utilizando-me de farinha de amêndoas, o que deixa o bolo maravilhoso! E você, como usa o pinhão?

REFERÊNCIAS

EMBRAPA. Valor Nutricional do Pinhão. Disponível em: https://www.embrapa.br/florestas/valor-nutricional-do-pinhao. Acesso em: 12 mai. 2018.

OPAS. O Pinhão e seus benefícios à saúde. Disponível em: https://www.opas.org.br/o-pinhao-e-seus-beneficios-a-saude. Acesso em: 12 mai. 2018

SANTOS, A.J.; CORSO, N.M.; MARTINS, G.; BITTENCOURT, E. Aspectos produtivos e comerciais do pinhão no estado do Paraná. Florestas. V.32, n.2, p.163-169. 2001.

SLOW FOOD BRASIL. Produtores de Pinhão do Planalto Serrano. Disponível em: https://www.slowfoodbrasil.com/comunidades-do-alimento/comunidades-brasileiras/20-sul/98-produtores-de-pinhao-do-planalto-serrano-santa-catarina. Acesso em: 12 mai. 2018.


Bruna Mendes

BRUNA MENDES

Mestre em Hospitalidade, bacharel em Turismo e Licenciada em Pedagogia, mas acima de tudo, apaixonada pela cultura, turismo e gastronomia.

1 Comentário

  1. Pinhão espalhado na chapa do fogão a lenha, sentado em volta comendo. Meu Deus é muito bom.

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