Por: Arnaldo Francisco Cardoso
A notícia divulgada no último dia 12 da inclusão do Brasil no seleto grupo de países certificados no Acordo Internacional do Cacau, reconhecendo assim o País como exportador de cacau fino e de aroma, foi recebida com entusiasmo por produtores e demais profissionais do setor cacaueiro. Nos últimos anos o setor vem empreendendo redobrados esforços para melhorar a qualidade do produto nacional e projetando essa imagem no mercado internacional, desenhando um novo horizonte para milhares de produtores e demais envolvidos na extensa cadeia produtiva do cacau–chocolate.
Esse reconhecimento se deu em reunião do conselho internacional da Organização Internacional do Cacau (ICCO) em Abidjan, na Costa do Marfim, atendendo um pleito do Brasil iniciado em 2015.
Identificado por apresentar “sabores diferenciados, desde frutados, florais, amadeirado, entre outros” a definição de cacau fino leva em consideração as características genéticas (origem), local (terroir) e o tratamento das amêndoas pós-colheita.
O aumento da demanda nacional e internacional pelo cacau fino e chocolate premium tem impulsionado pequenos e grandes produtores a adotarem um conjunto de técnicas que vão desde o plantio, passando pela colheita e manejo das amêndoas, com destaque para o processo de fermentação, que podem resultar numa melhor remuneração ao produtor atingindo preço até 200% maior que o do cacau bulk.
Embora a participação do cacau fino represente pouco menos de 5% no volume total da produção nacional, alguns importantes produtores estão convertendo uma parcela cada vez maior de sua produção para o cacau fino como é o caso da Fazenda Panorama, em Uruará – Pará, que já tem participação de 20% do cacau fino em sua produção. Na Bahia o produtor Pedro Magalhães Neto informa que da produção anual de 75 toneladas de suas três fazendas, 40% é de cacau fino.
Outra ótima notícia que chegou para coroar o trabalho de produtores e animar o setor cacaueiro brasileiro foi a classificação de duas amostras – dentre oito – para o prêmio do Programa Internacional Cacau de Excelência que será entregue no próximo Salão Internacional do Chocolate, em outubro, em Paris. As amostras classificadas são da Fazenda Panorama e da Fazenda Leolinda, respectivamente dos Estados do Pará e Bahia.
Essas conquistas que o setor cacaueiro vem acumulando são resultantes da perseverança e empreendedorismo de muitos produtores e outros profissionais que não esmorecem e se dedicam para o desenvolvimento da cacauicultura. Tendo como exemplo os produtores baianos que atravessaram anos terríveis com o auge da vassoura-de-bruxa e se reergueram, bem como os produtores paraenses que enfrentam uma perversa combinação de problemas como as pendentes questões fundiárias, a precária situação de infraestrutura logística, a tensão social provocada pela presença de atividades ilegais ligadas à mineração e à exploração da madeira, agravada nos dias presentes pelo aumento do desmatamento e incêndios criminosos na Amazônia, prejudicando as populações locais e depreciando internacionalmente a imagem da região, eclipsando boas realizações.
Além da perseverança e empreendedorismo, o setor cacaueiro do Brasil, formado por pequenos e grandes produtores, não pode prescindir das ações do poder público, que devem ser inteligentes e coordenadas, orientadas por pesquisas setoriais competentes, com financiamento adequado, para que o setor experimente um verdadeiro renascimento, sob novas bases, premiando o investimento e o trabalho e gerando bons frutos para todos.
Arnaldo Francisco Cardoso é pesquisador e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campi Higienópolis e Alphaville.
Sobre o Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.
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