A guerra entre Rússia e Ucrânia, apesar de estar acontecendo do outro lado do mundo, tem trazido reflexos para todo o globo. Para além da grave crise humanitária, o conflito no Leste Europeu acendeu o alerta vermelho para diversas outras questões. No aspecto econômico, a elevação dos preços do petróleo no mercado internacional, em decorrência do conflito, foi sentida por toda parte, especialmente no Brasil.
Outro produto de fundamental importância, o trigo, também teve sua oferta reduzida, impactando diretamente os preços. Isso porque os dois países eslavos são o primeiro e o quarto, respectivamente, maiores exportadores do cereal no mundo. Somados, os dois países formam quase um terço do total de trigo produzido em todo o globo! E apesar de o Brasil ser um grande produtor de alimentos, quando o assunto é trigo, nós importamos uma quantidade significativa.
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Isso se dá por conta do nosso trigo ter pouca concentração de glúten, em comparação ao cereal dos outros países. E do que é colhido aqui, apenas 30% serve para a panificação. A produção, que está concentrada na região Sul do Brasil, é pouco rentável e cercada de riscos, o que explica a baixa oferta nacional e a necessidade de importação. Com a guerra e, por consequência, a suspensão das exportações, houve um movimento de aumento da cotação do cereal no mercado internacional. E, como se não bastasse, o cereal tem seu valor cotado em dólar, moeda muito valorizada frente ao real, o que por sua vez encarece ainda mais o produto para nós, brasileiros.
Apesar disso, a expectativa é que não soframos tanto com desabastecimento, uma vez que o Brasil importa a maioria do trigo dos Estados Unidos e dos parceiros sul-americanos, como Argentina, Paraguai e Uruguai, mas mesmo assim, o impacto será sentido. A Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo) faz um apelo para mais estímulos governamentais, na direção de alcançarmos a autossuficiência na produção de trigo.
Os maiores produtores nacionais estão no estado do Rio Grande do Sul e no Paraná, e somados os esforços, produzem 85% do trigo nacional, o que resulta em aproximadamente 5 milhões de toneladas do produto. A então ministra da Agricultura Tereza Cristina defendeu a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), sinalizando que “[a empresa] produz hoje variedades muito boas na qualidade do trigo e na produtividade, mas nós precisamos de algum tempo”.
A Embrapa aposta em um cenário otimista. No caso, em que haja um incentivo ao plantio do cereal, segundo Osvaldo Vieira, chefe-geral da Embrapa Trigo. Ele espera que a área de plantio cresça algo em torno de 30% somente no Rio Grande do Sul. Há expectativa que o mesmo aconteça no Paraná, principalmente nas regiões mais frias, clima ideal para o cultivo.
Porém, a curto prazo, o efeito ainda é muito forte. Os preços sofreram quase 10% de aumento no acumulado dos últimos 12 meses, e devem impactar a mesa da população mais pobre, trazendo insegurança alimentar. Só nos resta torcer pelo final do desconcertante conflito, que pode ser acompanhado nas mais diversas plataformas midiáticas, seja pela tela de um celular, ou de uma smart tv.
Foto Destaque: iStock/Banco de imagens
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