Apesar da capital do Brasil não possuir uma culinária típica definida, a cidade possui sim memória afetiva gastronômica. Isso é o que mostra a pesquisa realizada por duas estudantes do curso de Nutrição do Centro Universitário de Brasília (CEUB). Bruna Louredo e Maria Fernanda Perez ouviram a população, classificaram os espaços e, então, criaram o Mapa Gastronômico Afetivo de Brasília. O intuito do trabalho é posicionar o Distrito Federal no cenário gastronômico mundial.

Assim, o mapa é fruto do conjunto de lembranças e emoções relacionadas às experiências do brasiliense. Sendo que os 168 participantes da pesquisa, com idades entre 18 e 37 anos, ajudaram a eleger comidas e lugares de memória, pela preferência afetiva e tradição local. Contudo, Bruna explica que o mapa deve estar em constante mudança, por ser resultado de uma influência cultural de várias regiões.

“Apesar de não termos um prato típico, há estabelecimentos que nos representam e, somado a isso, temos o motivo da representação, trazendo a questão da memória afetiva, que é um campo ainda pouco estudado”, esclarece a pesquisadora.

Categorias

De acordo com o mapa, a categoria “Bares e Restaurantes” lidera a manifestação afetiva por meio da comida. O restaurante Beirute, por exemplo, é citado por 18,1% dos entrevistados como o local que simboliza a memória gastronômica da população. Em seguida, destaca-se o Libanus com 11,2% e o Xique Xique com 10%.

Na categoria “Comidas de Rua”, a descentralização dos pontos diferencia os quitutes escolhidos. A pizzaria Dom Bosco é a primeira do ranking com 17,5% das menções. Depois vem a Dog da Igrejinha com 15% e a Pastelaria Viçosa com 10,6%. Saindo do Plano Piloto, a Hamburgueria do Geleia e as Bombas do Guará se sobressaem.

Já sobre os cafés, os locais preferidos estão predominantemente no centro de Brasília. O Ernesto Café leva o primeiro lugar com 18,7% das citações, na frente da confeitaria Bellini (16,8%) e da Pão Dourado (13,1%). Por fim, a maioria das Sorveterias e Lanchonetes citadas como referências são franquias: Palato (16,2%), Giraffas (15%), Stonia (13,7%) e Chiquinho Sorvetes (12,5%).

Construção de memória afetiva no paladar

Durante a construção de Brasília, muitos trabalhadores chegaram de todo o país. Essas pessoas, conhecidos como candangos, trouxeram suas culturas, tradições e hábitos alimentares, que influenciaram de forma significativa a cultura da nova capital. Nesse contexto, a pesquisa contribuiu também para comprovar a grande influência de culinárias regionais em decorrência da diversidade de migrantes existente na capital.

Segundo pesquisa divulgada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), a maioria da população de Brasília (55%) nasceu na capital federal e 44,5% declararam a origem de outros estados. Nesse sentido, os mais predominantes são: Minas Gerais (15,5%), Bahia (11,9%), Goiás (11,9%), Maranhão (11,6%) e Piauí (11,4%). Logo, como uma cidade jovem e com diversidade de costumes, Brasília se molda por gerações e locais que identificam a efervescência social da cidade.

Para a egressa do CEUB, Maria Fernanda Perez, desenvolver a mostra foi reviver as lembranças afetivas da geração de seus pais. A estudante ressalta ainda que o mapa pode engajar o turismo local, a partir da divulgação das comidas exclusivas da cidade. Assim como ela, as professoras orientadoras do projeto, Alessandra dos Santos e Bruna Zacante, reforçam esse traço do mapa. Isso porque o consideram uma fonte de orgulho para a população local, podendo promover a identidade brasiliense.

Desse modo, em breve o mapa gastronômico deverá se tornar um produto de divulgação, não apenas no universo turístico, mas para os próprios brasilienses. Levando ao conhecimento comum diversos locais que podem ser explorados. Ademais, a ideia das criadoras é expandir o projeto e aumentar o número de participantes em uma segunda edição. Inclusive, com possibilidade de se fazer um mapa específico para cada Região Administrativa.

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